quarta-feira, 18 de junho de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 8

Maria Paula foi batizada em 8 de Junho de 1891
ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
 (UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
(Continuação)
 8
O CONTACTO COM OUTRAS TERRAS
Aspeto interessante no estudo de uma comunidade são os movimentos migratórios, suas motivações e consequências. O homem pode deslocar-se de um lado para o outro, por mais ou menos tempo e por razões muito variadas: económicas, familiares, espírito de aventura, posição social, etc., sem esquecer os rapazes que outrora fugiam ao serviço militar (1). Isto provoca inevitável intercâmbio, com vastas implicações económicas, sociais e culturais: nomes, profissões, atividades, costumes, modos de trabalhar e de produzir. No fundo, as pessoas transportam consigo um vasto património cultural, a que algo pode ser retirado ou adicionado, produzindo-se fenómenos a que a sociologia designa com termos como aculturação e enculturação).
Estima-se que em finais do século XIX tenham saído de Portugal cerca de 500.000 pessoas, sobretudo homens. Os destinos da moda eram a África e o Brasil, mas nada nos permite supor que os nossos antepassados da Aldeia do Mato tenham cruzado os mares nessas direções. Contudo, sabemos que muita da nossa gente andava de terra em terra à procura de sustento, à volta de Abrantes, Mação, Sardoal, Tomar, Vila de Rei, em Lisboa, Ribatejo e Alentejo fora. A própria literatura (lembramo-nos dos Gaibéus, dos Ratinhos, dos Caramelos, dos Avieiros). Também as bonitas cantigas populares de que tanto gostamos nos deixam preciosas indicações. Não resistimos a recordar a Cantiga do Resineiro, que alguns dizem ser oriunda do Mação, nem uma bela recolha do Rancho Os Esparteiros, de Mouriscas: "Ai, eu parto para Santa Eulália/ Ai, vou para a ceifa do trigo...".
As pessoas das diferentes terras iam-se conhecendo no trabalho, em festas e em romarias. Surgiam casamentos, nascimentos e batizados, com compadres e comadres que às vezes vinham de bastante longe deixar os seus nomes aos afilhados, se acaso não fizessem já parte da nossa comunidade, por qualquer outra razão. Com efeito, o Padre Alpalhão deixou nos Assentos de Batizados algumas indicações da proveniência de pessoas que entravam ou que vinham à Aldeia do Mato. Importa sublinhar que, nos casos em apreço, as pessoas vinham por razões familiares: para contrair casamento e constituir família, ou simplesmente para apadrinhar crianças no batizado. Aqui ficam algumas notas, para avivar a memória dos nossos conterrâneos:
8.1. Abrançalha:
Daqui veio Manuel Vicente para a Aldeia do Mato. Casou com Ana da Conceição, em 2.11.1885.
8.2. Abrantes:
As famílias Heitor Marques e Mota Ferraz apadrinharam diversos batizados a partir de 1889.

De Abrantes veio, também, Roberto Rodrigues para a Carreira do Mato, casando com Maria da Conceição, em 23.01.1899.
8.3. Aljustrel, Beja:
Inácio Luís veio desta terra alentejana para a Aldeia do Mato. Não consta do registo de casamentos, mas aparece casado com Joaquina Maria (pais de uma criança em 1900).
8.4. Alverangel, Tomar:
Daqui veio Rosa Maria, como madrinha de uma criança do Bairro, em 1905.
8.5. Amoreira:
Daqui vieram Sebastião Rodrigues, padrinho em 1878, na Carreira do Mato, e Manuel João, padrinho em 1887, na Aldeia do Mato.
Manuel Esteves casou na Aldeia do Mato, com Maria da Conceição, em 2.12.1896.
Em 1911, Zeferino Lopes dos Santos (estudante) apadrinhou uma criança da Cabeça Gorda.
8.6. Andreus:
Daqui veio João Mendes, para a Medroa. Casou com Maria do Carmo, em 26.12.1877.
8.7. Arega (Figueiró dos Vinhos):
Daqui veio João Rodrigues de Almeida, padrinho de uma criança da Cabeça Gorda, em 1887.
8.8. Caniceira (Tramagal):
Daqui veio Guilherme Henriques, para a Aldeia do Mato, onde casou com Maria do Rosário, em 26.03.1888.
8.9. Coimbra:
De terras do Mondego vieram até à Aldeia do Mato Teles Colaço (padrinho em 1862), e Raimundo da Silva Mota (Lente em Coimbra, médico), com sua filha Adelaide Botelho Mota (padrinhos em 1878).
8.10. Constância:
Desta bonita vila vieram os irmãos Paulo Oliveira Tanqueiro e Francisco Oliveira Tanqueiro. Casaram com as irmãs Conceição e Guilhermina, filhas do nosso conhecido Pedro Inácio de Matos e de Maria da Conceição. Fixaram-se na Aldeia do Mato.
Francisco casou em 23.04.1904, mas do casamento de Paulo não há registo (poderá ter ocorrido noutra terra, fora da paróquia).
8.11. Figueiró dos Vinhos:
Joaquim da Silva veio apadrinhar uma criança da Cabeça Gorda, em 1874.
8.12. Fundada, Vila de Rei:
Bernardino Luís veio para o Bairro, tendo casado com Maria do Carmo,. em 28.04.1890
8.13. Idanha-a-Nova:
O casal António Rodrigues Oliveira e Josefina da Conceição veio apadrinhar uma criança da Aldeia do Mato, em 1910.
8.14. Lisboa:
Augusto Gregório veio apadrinhar uma criança da Carreira do Mato, em 1900.
O casal Antão Galriça e Victória de Jesus veio até à Cabeça Gorda em 1898 e 1901, pelas mesmas razões. Curiosamente, as estas duas crianças eram irmãs (um menino e uma menina), e filhas de João Patrício e Henriqueta Maria.
8.15. Mação:
Gertrudes Maria veio para a Carreira do Mato, tendo casado com Januário António, em 11.12.1899.
8.16. Martinchel:
Embora uma freguesia limítrofe, daqui não veio muita gente para a Aldeia do Mato. Os casos registados referem pessoas que se fixam sobretudo em Vale de Chões e Medroa Segundo os registos disponíveis, Martinchel teria muito menos gente que a Aldeia do Mato (2).
8.17. Montalegre:
João Baptista veio para a Carreira do Mato. Casou com Henriqueta de Jesus, em 8.09.1879.
8.18. Montalvo:
Em 1904, o casal Joaquim António e Leopoldina Maria apadrinhou uma criança da Medroa.
8.19. Mosteiro, Oleiros, Castelo Branco:
João Inácio veio apadrinhar crianças em 1866 e 1883, respectivamente da Aldeia do Mato e da Medroa.
8.20. Mouriscas:
O Padre Henrique Oliveira Neves, pároco da freguesia desde 1888 até 1897, foi padrinho de muitas crianças, mesmo quando já exercia o seu múnus apostólico nas Mouriscas.
8.21. Paul:
Francisco Aderneira foi padrinho de uma criança da Medroa, em 1880.
Virgínia Maria também apadrinhou crianças da Carreira do Mato e da Medroa, dando o seu nome a algumas.
Maria Teresa veio fixar-se na Medroa, com Manuel Lucas dos Santos, em 1907. Não há registo do casamento, mas este poderia ter ocorrido noutro lugar.
8.22. Rio de Moinhos:
Álvaro de Matos Machado apadrinhou uma criança da Aldeia do Mato, em 1873.
José dos Santos Bioucas, foi padrinho de uma criança da Medroa, em 1900.
Henrique Bento deixou afilhado na Carreira do Mato, em 1905.
António Candeias (sapateiro), veio para os Casais, onde casou com Maria Rosa, em 18.02.1905.
8.23. Rossio de Abrantes:
Manuel Francisco Pires foi padrinho de uma criança da Medroa, em 1909.
8.24. S. Pedro do Sul, Viseu:
Joaquim Fonseca da Silva não consta nos registos de casamentos da paróquia. É pai de uma criança em 1905, constando ser casado com Rosália Maria, da Cabeça Gorda.
8.25. Sabacheira, Tomar:
Segundo este curioso registo, José António Duarte era pastor. Em 1910 é pai de uma criança ilegítima cuja mãe se chama Maria Rosa: é viúva, e da Aldeia do Mato.  
Nos registos de óbitos consta ter ficado viúva em 22.02.1909 uma Maria Rosa, da Aldeia do Mato, à data com 35 anos de idade e já com um filho. Coincidência? Dos registos disponíveis também ficou claro que Maria Rosa era filha de pais incógnitos.
Da nossa análise também parece que José António e Maria Rosa nunca casaram. Dele, nada mais podemos conjeturar.
8.26. Sardoal:
Júlio Martins de Oliveira, padrinho de uma criança da Carreira do Mato, em 1887.
8.27. Serra, Tomar:
Francisco Nunes apadrinhou uma criança da Medroa, em 1887.
João Serôdio veio constituir família na Cabeça Gorda, casando com Maria Cristina em 21.11.1887.
8.28. Soure, Coimbra:
Maria Simões veio para a Carreira do Mato. Não consta nos registos de casamento, mas seria casada com José Manuel Candeias. Há filhos deste casal a partir de 1897.
8.29. Souto:
É grande a quantidade de homens e de mulheres que vieram dos vários lugares da freguesia do Souto para a de Aldeia do Mato. Este movimento foi uma constante, e verifica-se que vinham sobretudo mulheres. Isto poderá parecer uma exceção à regra, já que o casal se fixaria, tendencialmente, na terra da noiva, perto da casa de seus pais, mas na verdade não temos os registos de quem saiu. Os lugares para onde vieram foram sobretudo a Carreira do Mato e a Cabeça Gorda. Importa dizer que os registos disponíveis indicam ser o Souto a mais populosa das freguesias limítrofes da Aldeia do Mato (3).
8.30. Vale de Paços, Vila Real:
O transmontano José Narciso de Morais, apadrinhou uma criança da Medroa, em 1873.
8.31. Vila de Rei:
Ana Rosa veio para a Aldeia do Mato, onde casou em 19.11.1900. Seu marido foi João Gonçalves Braz (taberneiro).
Neste apontamento poderemos constatar que, de facto, havia contactos entre pessoas de diferentes terras, embora seja recomendável muita cautela na análise dos dados. No caso dos padrinhos e das madrinhas, por exemplo, seria arriscado afirmar que as pessoas vinham de propósito de tão longe, pois poderiam ter vindo anteriormente das suas terras, fixando-se ou estando de passagem, já que algumas atividades eram sazonais e, até, itinerantes (latoeiros, amoladores, resineiros, comerciantes, relojoeiros, ourives, etc.).
De quem saía não temos notícia, e o que infundadamente se acrescentar ao que dissemos será conjetura.
(1) Por razões familiares, ainda nos lembramos de Bernardino dos Santos, nascido na Cabeça Gorda em 16.04.1896, filho de Sebastião dos Santos e de Paula Maria (Expostos). Consta que fugiu para Évora e daí para Peniche. De fato aqui se fixou, constituiu família e faleceu.
(2) O Dicionário Chorográphico de Portugal e Ilhas Adjacentes, E. A. Bettencourt, 3ª Edição, Lisboa, 1885, atribui a Martinchel 74 Fogos, e 199 Varões e 177 Fêmeas.
(3) Segundo as Memórias Paroquiais, em 1758 a freguesia de São Silvestre do Souto teria "312 fogos, 868 pessoas maiores, 156 menores e 300 inocentes".
                                   
(continua)
 
Manuel Paula Maça
 

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