ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 8
Maria Paula foi batizada em 8 de Junho de 1891
ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
(Continuação)
O
CONTACTO COM OUTRAS TERRAS
Aspeto interessante no estudo de uma
comunidade são os movimentos migratórios, suas motivações e consequências. O
homem pode deslocar-se de um lado para o outro, por mais ou menos tempo e por
razões muito variadas: económicas, familiares, espírito de aventura, posição
social, etc., sem esquecer os rapazes que outrora fugiam ao serviço militar (1). Isto
provoca inevitável intercâmbio, com vastas implicações económicas, sociais e
culturais: nomes, profissões, atividades, costumes, modos de trabalhar e de
produzir. No fundo, as pessoas transportam consigo um vasto património
cultural, a que algo pode ser retirado ou adicionado, produzindo-se fenómenos a
que a sociologia designa com termos como aculturação e enculturação).
Estima-se que em finais do século XIX
tenham saído de Portugal cerca de 500.000 pessoas, sobretudo homens. Os
destinos da moda eram a África e o
Brasil, mas nada nos permite supor que os nossos antepassados da Aldeia do Mato
tenham cruzado os mares nessas direções. Contudo, sabemos que muita da nossa
gente andava de terra em terra à procura de sustento, à volta de Abrantes,
Mação, Sardoal, Tomar, Vila de Rei, em Lisboa, Ribatejo e Alentejo fora. A
própria literatura (lembramo-nos dos Gaibéus,
dos Ratinhos, dos Caramelos, dos
Avieiros). Também as bonitas cantigas populares de que tanto gostamos nos deixam
preciosas indicações. Não resistimos a recordar a Cantiga do Resineiro, que alguns dizem ser oriunda do Mação, nem
uma bela recolha do Rancho Os Esparteiros,
de Mouriscas: "Ai, eu parto para
Santa Eulália/ Ai, vou para a ceifa do trigo...".
As pessoas das diferentes terras iam-se
conhecendo no trabalho, em festas e em romarias. Surgiam
casamentos, nascimentos e batizados, com compadres e comadres que às vezes
vinham de bastante longe deixar os seus nomes aos afilhados, se acaso não
fizessem já parte da nossa comunidade, por qualquer outra razão. Com efeito, o
Padre Alpalhão deixou nos Assentos de Batizados algumas indicações da
proveniência de pessoas que entravam
ou que vinham à Aldeia do Mato.
Importa sublinhar que, nos casos em apreço, as pessoas vinham por razões
familiares: para contrair casamento e constituir família, ou simplesmente para
apadrinhar crianças no batizado. Aqui ficam algumas notas, para avivar a
memória dos nossos conterrâneos:
8.1.
Abrançalha:
Daqui veio Manuel Vicente para a Aldeia do
Mato. Casou com Ana da Conceição, em 2.11.1885.
8.2.
Abrantes:
As famílias Heitor Marques e Mota Ferraz
apadrinharam diversos batizados a partir de 1889.
De Abrantes veio, também, Roberto Rodrigues
para a Carreira do Mato, casando com Maria da Conceição, em 23.01.1899.
8.3.
Aljustrel, Beja:
Inácio Luís veio desta terra alentejana para
a Aldeia do Mato. Não consta do registo de casamentos, mas aparece casado com
Joaquina Maria (pais de uma criança em 1900).
8.4.
Alverangel, Tomar:
Daqui veio Rosa Maria, como madrinha de uma
criança do Bairro, em 1905.
8.5.
Amoreira:
Daqui vieram Sebastião Rodrigues, padrinho em
1878, na Carreira do Mato, e Manuel João, padrinho em 1887, na Aldeia do Mato.
Manuel Esteves casou na Aldeia do Mato, com
Maria da Conceição, em 2.12.1896.
Em 1911, Zeferino Lopes dos Santos
(estudante) apadrinhou uma criança da Cabeça Gorda.
8.6.
Andreus:
Daqui veio João Mendes, para a Medroa. Casou
com Maria do Carmo, em 26.12.1877.
8.7.
Arega (Figueiró dos Vinhos):
Daqui veio João Rodrigues de Almeida,
padrinho de uma criança da Cabeça Gorda, em 1887.
8.8.
Caniceira (Tramagal):
Daqui veio Guilherme Henriques, para a Aldeia
do Mato, onde casou com Maria do Rosário, em 26.03.1888.
8.9.
Coimbra:
De terras do Mondego vieram até à Aldeia do
Mato Teles Colaço (padrinho em 1862), e Raimundo da Silva Mota (Lente
em Coimbra, médico), com
sua filha Adelaide Botelho Mota (padrinhos em 1878).
8.10.
Constância:
Desta bonita vila vieram os irmãos Paulo
Oliveira Tanqueiro e Francisco Oliveira Tanqueiro. Casaram com as irmãs
Conceição e Guilhermina, filhas do nosso conhecido
Pedro Inácio de Matos
e de Maria da Conceição. Fixaram-se na Aldeia do Mato.
Francisco casou em 23.04.1904, mas do
casamento de Paulo não há registo (poderá ter ocorrido noutra terra, fora da
paróquia).
8.11.
Figueiró dos Vinhos:
Joaquim da Silva veio apadrinhar uma criança
da Cabeça Gorda, em 1874.
8.12.
Fundada, Vila de Rei:
Bernardino Luís veio para o Bairro, tendo
casado com Maria do Carmo,. em 28.04.1890
8.13.
Idanha-a-Nova:
O casal António Rodrigues Oliveira e
Josefina da Conceição veio apadrinhar uma criança da Aldeia do Mato, em
1910.
8.14.
Lisboa:
Augusto Gregório veio apadrinhar uma criança da Carreira do Mato, em 1900.
O casal Antão Galriça e Victória de Jesus
veio até à Cabeça Gorda em 1898 e 1901, pelas mesmas razões. Curiosamente, as
estas duas crianças eram irmãs (um menino e uma menina), e filhas de João
Patrício e Henriqueta Maria.
8.15.
Mação:
Gertrudes Maria veio para a Carreira do Mato,
tendo casado com Januário António, em 11.12.1899.
8.16.
Martinchel:
Embora uma freguesia limítrofe, daqui não
veio muita gente para a Aldeia do Mato. Os casos registados referem pessoas que
se fixam sobretudo em Vale de Chões e Medroa Segundo os registos disponíveis,
Martinchel teria muito menos gente que a Aldeia do Mato (2).
8.17.
Montalegre:
João Baptista veio para a Carreira do Mato.
Casou com Henriqueta de Jesus, em 8.09.1879.
8.18.
Montalvo:
Em 1904, o casal Joaquim António e Leopoldina
Maria apadrinhou uma criança da Medroa.
8.19.
Mosteiro, Oleiros, Castelo Branco:
João Inácio veio apadrinhar crianças em 1866
e 1883, respectivamente da Aldeia do Mato e da Medroa.
8.20.
Mouriscas:
O Padre Henrique Oliveira Neves, pároco da
freguesia desde 1888 até 1897, foi padrinho de muitas crianças, mesmo quando já
exercia o seu múnus apostólico nas Mouriscas.
8.21.
Paul:
Francisco Aderneira foi padrinho de uma
criança da Medroa, em 1880.
Virgínia Maria também apadrinhou crianças da Carreira do Mato e da Medroa, dando
o seu nome a algumas.
Maria Teresa veio fixar-se na Medroa, com
Manuel Lucas dos Santos, em 1907. Não há registo do casamento, mas este poderia
ter ocorrido noutro lugar.
8.22.
Rio de Moinhos:
Álvaro de Matos Machado apadrinhou uma
criança da Aldeia do Mato, em 1873.
José dos Santos Bioucas, foi padrinho de uma
criança da Medroa, em 1900.
Henrique Bento deixou afilhado na Carreira do
Mato, em 1905.
António Candeias (sapateiro), veio para os
Casais, onde casou com Maria Rosa, em 18.02.1905.
8.23.
Rossio de Abrantes:
Manuel Francisco Pires foi padrinho de uma
criança da Medroa, em 1909.
8.24.
S. Pedro do Sul, Viseu:
Joaquim Fonseca da Silva não consta nos
registos de casamentos da paróquia. É pai de uma criança em 1905, constando ser
casado com Rosália Maria, da Cabeça Gorda.
8.25.
Sabacheira, Tomar:
Segundo este curioso registo, José António
Duarte era pastor. Em 1910 é pai de uma criança ilegítima cuja mãe se chama Maria Rosa: é viúva, e da Aldeia do
Mato.
Nos registos de óbitos consta ter ficado
viúva em 22.02.1909 uma Maria Rosa, da Aldeia do Mato, à data com 35 anos de
idade e já com um filho. Coincidência? Dos registos disponíveis também ficou
claro que Maria Rosa era filha de pais incógnitos.
Da nossa análise também parece que José
António e Maria Rosa nunca casaram. Dele, nada mais podemos conjeturar.
8.26.
Sardoal:
Júlio Martins de Oliveira, padrinho de uma
criança da Carreira do Mato, em 1887.
8.27.
Serra, Tomar:
Francisco Nunes apadrinhou uma criança da
Medroa, em 1887.
João Serôdio veio constituir família na
Cabeça Gorda, casando com Maria Cristina em 21.11.1887.
8.28.
Soure, Coimbra:
Maria Simões veio para a Carreira do Mato.
Não consta nos registos de casamento, mas seria casada com José Manuel
Candeias. Há filhos deste casal a partir de 1897.
8.29.
Souto:
É grande a quantidade de homens e de mulheres
que vieram dos vários lugares da freguesia do Souto para a de Aldeia do Mato.
Este movimento foi uma constante, e
verifica-se que vinham sobretudo mulheres. Isto poderá parecer uma exceção à
regra, já que o casal se fixaria, tendencialmente, na terra da noiva, perto da
casa de seus pais, mas na verdade não temos os registos de quem saiu. Os
lugares para onde vieram foram sobretudo a Carreira do Mato e a Cabeça Gorda.
Importa dizer que os registos disponíveis indicam ser o Souto a mais populosa
das freguesias limítrofes da Aldeia do Mato (3).
8.30.
Vale de Paços, Vila Real:
O transmontano José Narciso de Morais,
apadrinhou uma criança da Medroa, em 1873.
8.31.
Vila de Rei:
Ana Rosa veio para a Aldeia do Mato, onde
casou em 19.11.1900. Seu marido foi João Gonçalves Braz (taberneiro).
Neste apontamento poderemos constatar que, de
facto, havia contactos entre pessoas de diferentes terras, embora seja
recomendável muita cautela na análise dos dados. No caso dos padrinhos e das
madrinhas, por exemplo, seria arriscado afirmar que as pessoas vinham de
propósito de tão longe, pois poderiam ter vindo anteriormente das suas terras,
fixando-se ou estando de passagem, já que algumas atividades eram sazonais e,
até, itinerantes (latoeiros, amoladores, resineiros, comerciantes, relojoeiros,
ourives, etc.).
De quem saía não temos notícia, e o que
infundadamente se acrescentar ao que dissemos será conjetura.
(1) Por razões familiares, ainda nos
lembramos de Bernardino dos Santos, nascido na Cabeça Gorda em 16.04.1896,
filho de Sebastião dos Santos e de Paula Maria (Expostos). Consta que fugiu
para Évora e daí para Peniche. De fato aqui se fixou, constituiu família e
faleceu.
(2) O Dicionário Chorográphico de Portugal e Ilhas Adjacentes, E. A.
Bettencourt, 3ª Edição, Lisboa, 1885, atribui a Martinchel 74 Fogos, e 199 Varões e 177 Fêmeas.
(3) Segundo as Memórias Paroquiais, em
1758 a
freguesia de São Silvestre do Souto teria "312
fogos, 868 pessoas maiores, 156 menores e 300 inocentes".
(continua)
Manuel Paula Maça
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