domingo, 18 de maio de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 5

Portão do cemitério de Aldeia do Mato. Tem a data de 1913.
 



ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
 
(UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS) – parte 5
 (Continuação)
 MORTALIDADE
Nos capítulos anteriores vimos as pessoas nascer, crescer e casar – vertentes biológicas e sociológicas da vida, cujo epílogo natural é a morte. Vamos, pois, falar das mortes registadas neste período de 52 anos.
A Medicina estava pouco desenvolvida, as vacinas eram insuficientes, inexistentes ou indisponíveis. Os médicos eram poucos e sem recursos, exercendo às vezes as funções de uma forma itinerante, num contexto que deixava lugar a curandeiros, barbeiros, sangradores, benzedeiras, mulheres de virtude, endireitas, algebristas, etc. Pode dizer-se, com toda a propriedade, que se morria em todas as idades. A impossibilidade da prevenção e da cura decorria de limitações agravadas por hábitos higiénicos e alimentares deficientes, a par de habitações sem condições, que começavam por vitimar os mais frágeis e fragilizados, sobretudo as crianças. Paralelamente é de supor que seria reduzido o número de mortes em acidentes de trabalho e de viação, já que estávamos num meio puramente rural, e a industrialização nem chegaria a vir.
Nestes 52 anos encontramos registados 744 óbitos, o que dá uma média anual de 14,3.
5.1. Óbitos por Grupos Etários       
Podemos agrupar os óbitos segundo idades, e obteremos o seguinte escalonamento, em que incluímos totais-parciais:
A tabela criada parece ser intuitiva e permite ver, em quantidade e percentagem, os óbitos por cada grupo de idades. A opção por cores (uma para cada grupo criado) facilitará a interpretação.
Grupo Etário
Quantidade
Total Grupo
Acumulado
Recém-Nascido
29
 
 
Menos de 1 mês
20
 
 
1 mês a 1 ano
88
 
 
Subtotal
-
137
18,41%
1 a 2 anos
35
 
 
2 a 3 anos
20
 
 
3 a 4 anos
13
 
 
4 a 5 anos
9
 
 
5 a 6 anos
3
 
 
6 a 7 anos
3
 
 
7 a 8 anos
1
 
 
8 a 9 anos
4
 
 
9 a 10 anos
4
 
 
Subtotal
-
92
12,36%
10 a 20 anos
19
 
 
Subtotal
-
19
2,55%
20 a 30 anos
38
 
 
30 a 40 anos
46
 
 
40 a 50 anos
40
 
 
50 a 60 anos
47
 
 
60 a 70 anos
63
 
 
70 a 80 anos
106
 
 
Subtotal
-
340
45,69%
80 a 90 anos
107
 
 
90 a 100 anos
30
 
 
Subtotal
 -
137
18,41%
Mais de 100 anos
4
 
 
Subtotal
-
4
0,53%
Sem indicação
15
 
 
Subtotal
-
15
2,01%
Total Geral
744
744
100%
 373 eram do sexo masculino, e 371 do sexo feminino. Curiosa aproximação!
 
5.2. Distribuição por Meses
Embora não com muita evidência, fica a ideia de que os óbitos ocorreriam mais nos meses de frio, concretamente de Outubro a Abril.
5.3. Lugares de Óbito
Lugar
Quantidade
Aldeia do Mato
87
Arroteia
2
Bairros
24
Bairro da Estrada
1
Belmonte, Guarda (1)
1
Cabeça Gorda
245
Carreira do Mato
212
Casais
64
Colleias (?), Mouriscas
1
Fontainhas
2
Medroa
99
Vale de Chões
4
Vale Redondo
1
Vales
1
Total
744
 
Fica um gráfico que ilustra a distribuição por lugares.
 
 
 
5.4. Análise Breve

a) 18,41% morreram antes de 1 ano de idade: 137 óbitos. Foi esta a taxa de mortalidade infantil (3) 
b) 30,77% morreram até aos10 anos de idade: 229 óbitos.
c) A mortalidade diminui entre os 10 e os 20 anos.
d) A mortalidade sobe a partir dos 20 anos. Muitas mulheres morriam por ocasião do parto, e isso confirma-se na análise dos registos.
e) Excluindo a mortalidade infantil, o record de óbitos ocorre na faixa etária dos 80 aos 90 anos (107 casos = 14,38%).
f) O limite de idade atinge os 115 anos com Ana Paulina, falecida na Carreira do Mato, em 11.04.1901.
g) A esperança média de vida, à nascença, era de 41,95 anos.
5.5. Notas Subsidiárias
Expostos: 44 óbitos correspondem a expostos (30 do sexo masculino e 14 do sexo feminino). Em regra, o local de acolhimento foi a Cabeça Gorda.
Estudos disponíveis mostram que muitos expostos morriam antes da idade adulta.
Testamentos: Encontramos 29 registos de pessoas que, à data da morte, tinham testamento.
Registe-se que, muitas vezes, a decisão de testamentar tinha a ver com a preparação para uma boa morte. Como escreveu J. M. Geirinhas Rocha (2), " a doutrina cristã recomenda que os crentes devem estar sempre preparados para a eventualidade da morte que pode surgir a qualquer momento...".
Gémeos: Apercebemo-nos do óbito de 6 gémeos. Foram incluídos no grupo dos recém-nascidos.
Dementes: Há dois registos de óbito com esta indicação;
Mendigos: Idem;
Mendicantes: Idem; 
Pedinte: Há um registo com esta indicação. Refere-se a Maria Rosa, solteira, falecida na Cabeça Gorda em 31.10.1910, com 72 anos. Fez testamento a Paula Maria, casada com Sebastião dos Santos, da Cabeça Gorda (sabemos que estes eram expostos).
Importa referir que a mendicidade era legalmente permitida, como forma de reduzir a afluência às instituições de Caridade (Albergarias, Hospitais, Mercearias, etc.). Dar esmola também se enquadrava no espírito da religião católica. Muitas crianças começavam a pedir desde tenra idade e tornavam-se pedintes profissionais, o que começaria a ser reprimido por volta de 1930, num processo que em 1940 levaria à criação dos Albergues de Mendicidade Distritais (4).
Saldo Fisiológico: Se neste período nasceram 1214 pessoas e faleceram 744, teremos um saldo fisiológico de 470. Ocorreram 333 casamentos e poderemos arriscar como provável para a freguesia de Aldeia do Mato, no limite, 1.200 moradores, no início do século XX. Portugal teria, então, 4,5 a 5 milhões de habitantes.
 (1) Este curioso registo refere-se a Alexandrina Mendes Victória, de 20 anos, falecida em estação de Belmonte, Guarda, em 19.03.1899.
(continua)
(2) Atitudes Perante a Morte e Níveis de Religiosidade em Abrantes no Séc. XIX, Câmara Municipal de Abrantes, 1988.
(3) A taxa de mortalidade infantil em Portugal, em 2013, foi de 2,9‰ (2,9 por mil, INE).
(4) Decreto-lei n.º 30.389, de 20 de Abril de 1940. Diário do Governo 92, I Série, da mesma data.       
Manuel Paula Maça
 


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