Portão do cemitério de Aldeia do Mato. Tem a data de 1913.
ALDEIA DO MATO 1860 A
1911
(UM ESTUDO DOS
REGISTOS PAROQUIAIS) – parte 5
(Continuação)
MORTALIDADE
Nos capítulos
anteriores vimos as pessoas nascer,
crescer e casar – vertentes biológicas e sociológicas da vida, cujo epílogo
natural é a morte. Vamos, pois, falar das mortes registadas neste período de 52
anos.
A Medicina estava
pouco desenvolvida, as vacinas eram insuficientes, inexistentes ou
indisponíveis. Os médicos eram poucos e sem recursos, exercendo às vezes as
funções de uma forma itinerante, num contexto que deixava lugar a curandeiros,
barbeiros, sangradores, benzedeiras, mulheres de virtude, endireitas,
algebristas, etc. Pode dizer-se, com toda a propriedade, que se morria em todas
as idades. A impossibilidade da prevenção e da cura decorria de limitações
agravadas por hábitos higiénicos e alimentares deficientes, a par de habitações
sem condições, que começavam por vitimar os mais frágeis e fragilizados,
sobretudo as crianças. Paralelamente é de supor que seria reduzido o número de
mortes em acidentes de trabalho e de viação, já que estávamos num meio
puramente rural, e a industrialização nem chegaria a vir.
Nestes 52 anos
encontramos registados 744 óbitos, o que dá uma média anual de 14,3.
5.1. Óbitos por Grupos Etários
Podemos agrupar os
óbitos segundo idades, e obteremos o seguinte escalonamento, em que incluímos totais-parciais:
A tabela criada
parece ser intuitiva e permite ver, em quantidade e percentagem, os óbitos por
cada grupo de idades. A opção por cores (uma para cada grupo criado) facilitará
a interpretação.
Grupo Etário
|
Quantidade
|
Total Grupo
|
Acumulado
|
Recém-Nascido
|
29
|
|
|
Menos de 1 mês
|
20
|
|
|
1
mês a 1 ano
|
88
|
|
|
Subtotal
|
-
|
137
|
18,41%
|
1
a 2 anos
|
35
|
|
|
2
a 3 anos
|
20
|
|
|
3
a 4 anos
|
13
|
|
|
4
a 5 anos
|
9
|
|
|
5
a 6 anos
|
3
|
|
|
6
a 7 anos
|
3
|
|
|
7
a 8 anos
|
1
|
|
|
8
a 9 anos
|
4
|
|
|
9
a 10 anos
|
4
|
|
|
Subtotal
|
-
|
92
|
12,36%
|
10
a 20 anos
|
19
|
|
|
Subtotal
|
-
|
19
|
2,55%
|
20
a 30 anos
|
38
|
|
|
30
a 40 anos
|
46
|
|
|
40
a 50 anos
|
40
|
|
|
50
a 60 anos
|
47
|
|
|
60
a 70 anos
|
63
|
|
|
70
a 80 anos
|
106
|
|
|
Subtotal
|
-
|
340
|
45,69%
|
80
a 90 anos
|
107
|
|
|
90
a 100 anos
|
30
|
|
|
Subtotal
|
-
|
137
|
18,41%
|
Mais
de 100 anos
|
4
|
|
|
Subtotal
|
-
|
4
|
0,53%
|
Sem
indicação
|
15
|
|
|
Subtotal
|
-
|
15
|
2,01%
|
Total Geral
|
744
|
744
|
100%
|
373 eram do
sexo masculino, e 371 do sexo feminino. Curiosa aproximação!
5.2. Distribuição por Meses
Embora não com muita
evidência, fica a ideia de que os óbitos ocorreriam mais nos meses de frio,
concretamente de Outubro a Abril.
5.3. Lugares de Óbito
Lugar
|
Quantidade
|
Aldeia do Mato
|
87
|
Arroteia
|
2
|
Bairros
|
24
|
Bairro da Estrada
|
1
|
Belmonte, Guarda (1)
|
1
|
Cabeça Gorda
|
245
|
Carreira do Mato
|
212
|
Casais
|
64
|
Colleias (?), Mouriscas
|
1
|
Fontainhas
|
2
|
Medroa
|
99
|
Vale de Chões
|
4
|
Vale Redondo
|
1
|
Vales
|
1
|
Total
|
744
|
Fica um gráfico que ilustra a distribuição por lugares.
5.4. Análise Breve
a) 18,41% morreram antes de 1 ano de
idade: 137 óbitos. Foi esta a taxa de mortalidade infantil (3).
b) 30,77% morreram até aos10 anos de
idade: 229 óbitos.
c) A mortalidade diminui entre os 10 e
os 20 anos.
d) A mortalidade sobe a partir dos 20
anos. Muitas mulheres morriam por ocasião do parto, e isso confirma-se na análise
dos registos.
e) Excluindo a mortalidade infantil, o
record de óbitos ocorre na faixa
etária dos 80 aos 90 anos (107 casos = 14,38%).
f) O limite de idade atinge os 115
anos com Ana Paulina, falecida na Carreira do Mato, em 11.04.1901.
g) A esperança média de vida, à
nascença, era de 41,95 anos.
5.5. Notas Subsidiárias
Expostos: 44 óbitos correspondem a expostos (30 do sexo masculino e 14 do
sexo feminino). Em regra, o local de acolhimento foi a Cabeça Gorda.
Estudos disponíveis
mostram que muitos expostos morriam
antes da idade adulta.
Testamentos: Encontramos 29 registos de pessoas que, à
data da morte, tinham testamento.
Registe-se que,
muitas vezes, a decisão de testamentar tinha a ver com a preparação para uma boa morte. Como escreveu J. M. Geirinhas
Rocha (2), " a doutrina cristã recomenda que os crentes devem estar sempre
preparados para a eventualidade da morte que pode surgir a qualquer
momento...".
Gémeos: Apercebemo-nos
do óbito de 6 gémeos. Foram incluídos no grupo dos recém-nascidos.
Dementes: Há dois registos de óbito com esta
indicação;
Mendigos: Idem;
Mendicantes: Idem;
Pedinte: Há um registo com esta indicação. Refere-se
a Maria Rosa, solteira, falecida na Cabeça Gorda em 31.10.1910, com 72 anos.
Fez testamento a Paula Maria, casada com Sebastião dos Santos, da Cabeça Gorda
(sabemos que estes eram expostos).
Importa referir que a
mendicidade era legalmente permitida, como forma de reduzir a afluência às
instituições de Caridade (Albergarias, Hospitais, Mercearias, etc.). Dar esmola também se enquadrava no espírito da religião católica. Muitas
crianças começavam a pedir desde tenra idade e tornavam-se pedintes profissionais, o que começaria a ser reprimido por volta
de 1930, num processo que em 1940 levaria à criação dos Albergues de
Mendicidade Distritais (4).
Saldo Fisiológico: Se neste período nasceram 1214 pessoas e
faleceram 744, teremos um saldo fisiológico de 470. Ocorreram 333 casamentos e
poderemos arriscar como provável para a freguesia de Aldeia do Mato, no limite,
1.200 moradores, no início do século XX. Portugal teria, então, 4,5 a 5 milhões de
habitantes.
(1) Este curioso
registo refere-se a Alexandrina Mendes Victória, de 20 anos, falecida em estação
de Belmonte, Guarda, em 19.03.1899.
(continua)
(2) Atitudes Perante a Morte e Níveis de Religiosidade
em Abrantes no Séc. XIX, Câmara Municipal de Abrantes, 1988.
(3) A taxa de
mortalidade infantil em Portugal, em 2013, foi de 2,9‰ (2,9 por mil, INE).
(4) Decreto-lei n.º
30.389, de 20 de Abril de 1940. Diário do Governo 92, I Série, da mesma data.
Manuel Paula Maça
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