sábado, 9 de março de 2013

ALDEIA DO MATO E A REPUBLICA, 1914

Em 5 de Outubro de 1910, na varanda da Câmara Municipal de Lisboa, José Relvas proclamava a República.
As relações entre a igreja e o estado vinham-se degradando há muito, ainda que em ambiente de tensões contidas, por receios e reciprocidade de interesses, ante uma sociedade rural predominantemente analfabeta em que se respeitariam mais as vestes sacerdotais do que a essência, os valores e os fundamentos da religião.
A portaria reproduzida a seguir é um testemunho avulso de tais tensões, e não valerá mais do que isso. Mas D. Pedro V morreu cedo, pois as doenças mortais eram frequentes e vinham por desígnios insondáveis.


Quando a República chegou, o padre Manuel Lopes Alpalhão era pároco da Aldeia do Mato, para onde fora designado em 2 de Janeiro de 1901. Nada de substantivo conhecemos de suas ligações à monarquia ou à república, embora um familiar com quem, em tempos, mantivemos contactos o considerasse adepto da causa monárquica.
Em 1914, D. António Moutinho, bispo de Portalegre de 1909 a 1915, questionava, por carta, o padre Alpalhão sobre as implicações do novo regime na vida religiosa na paróquia.
Em abono da história da Aldeia do Mato, deixamos reprodução da carta de D. António Moutinho, em duas páginas: 


 
Transcrevemos o conteúdo:

 "Digne-se V. Revª. enviar-me um relatório de tudo quanto soffreu e a sua egreja, desde a implantação do novo regimen. Indicando o nome de pessoas e dados; origem dos processos e sua importancia; tempo de prisao, exílio e motivos d'estes; tempo em que esteve fechada a sua egreja e causas d'este fecho; e tudo o mais que julgar conveniente, afim de serem angariados documentos para a história eclesiástica d'este período que atravessamos".

O padre Manuel Lopes Alpalhão terá respondido conforme reprodução seguinte, que será uma cópia da carta enviada:
 
 
Transcrevemos o conteúdo:

"Dando cumpr.to ao officio de S. Exa. Revma. de 21 do corrente, tenho a honra de comunicar-lhe que a minha egreja, desde a implantação do novo regimen, até esta data, ainda nada soffreu; nunca foi fexada, estando sempre, até hoje patente ao culto catholico. E nem catholico algum da minha fregª foi preso ou processado; todos os catholicos têm concorrido ao culto com a maxima liberdade. É qtº se me offerece a dizer a S. Excª Revma. Deus guarde a S. Excª Revma".

Notemos que entre outras questões, o bispo D. António Moutinho pedia “o nome de pessoas”. Para quê? Para um eventual e futuro acerto de contas?
Sabemos que mais tarde, durante o "consulado" de D. Domingos Maria Frutuoso (de 1920 a 1949), as coisas não foram pacíficas, e nem a Filarmónica do Rossio ao Sul do Tejo escapou à excomunhão, em 1924. Quanto à Aldeia do Mato, sabemos que a paróquia foi extinta na década de 1930, em data e por tempo que não podemos precisar (vide http://porabrantes.blogs.sapo.pt/tag/d.domingos+frutuoso). O padre Henrique de Oliveira Neves, pároco da Aldeia do Mato desde 1888 até 18 de Agosto de 1897, foi colocado nas Mouriscas, onde a sua vida pessoal e pastoral foi um verdadeiro inferno.
Ficam, então, as cópias dos documentos guardados ao longo de anos. Outros virão, em nome da história da Aldeia do Mato.

Manuel Paula Maça
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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