terça-feira, 25 de setembro de 2012

NOSSA SENHORA DO TOJO, SOUTO, ABRANTES



1. Li no jornal "Nova Aliança" (edição de 21 de Setembro de 2012) que "Como é tradição desde há muitos anos a festa anual de Nossa Senhora do Tojo realiza-se no segundo domingo de Outubro (...)."
Meu saudoso pai (conhecido pela alcunha de Zé Carolino) era natural da Ribeira da Brunheta, freguesia do Souto, concelho de Abrantes. Isto despertou-me, bem cedo, a curiosidade e o interesse pela vertente histórica da questão. 
Passados muitos anos, diversos e frequentes desentendimentos com o Revº Padre Rosa acabariam por levar o assunto às páginas da imprensa local. O jornal "Gazeta do Tejo", por exemplo, deu, aliás, nota das más relações de algumas franjas da comunidade com o sacerdote. Na ocasião, entrei nessa espécie de debate com base nos elementos históricos obtidos ao longo de muitos anos. Transcrevo passagens:

«Diz a lenda que umas crianças que guardavam um rebanho encontraram dentro de um tojo uma bonita imagem de uma santa. Recolheram-na e levaram-na para casa, mas desapareceu. Voltando ao tojo tornaram a encontrá-la e a levá-la, mas desapareceu de novo. O fenómeno repetiu-se, e acabou por levar à edificação da Ermida da Nossa Senhora do Tojo, em data que se desconhece.

Pegando na tradição e na lenda, António Carvalho da Costa (1) escreveu que "pondo-se fogo a hum mato no sítio, em que hoje está a Ermida, ficou hum tojo muy verde sem se queymar, & reparando nelle hum Pastorinho, achou dentro huma imagem pequena, & metendo-a no capello do gabão, sem saber o que levava, indo para casa, a não achou...". Diz ainda este autor tratar-se de "imagem milagrosa & de grande concurso de Romeyros".

Também a este propósito, Pinho Leal (2) escreveu que "É antiquíssima e não se sabe quando ou por quem foi fundada. É um templo pequeno, mas bonito, com alpendres aos lados, e casas para acolheita de romeiros (...) A sua festa principal é no segundo Domingo de Outubro".».

Ora, ao longo da minha adolescência e em idade adulta, a festa da Nossa Senhora do Tojo foi sempre, grosso modo, no primeiro fim de semana do mês de Agosto: uma celebração em honra da Senhora, em que, humanamente, se misturavam o profano e o sagrado, com o meu pai a integrar o cortejo, de vela na mão, em cumprimento de uma promessa pela ajuda que entendia ter recebido [da Senhora].   Isto, para uma achega histórica.  
Foi, então, recuperada a tradição.

2. Lamentavelmente, nem sempre a Senhora do Tojo foi motivo de concórdia entre os paroquianos de São Sivestre do Souto, algumas vezes, eventualmente e até, por rivalidades inúteis ou desnecessárias. Não sabemos das questões do ouro oferecido à Senhora, mas não nos passou ao lado a circunstância de no Boletim Paroquial Souto do Zêzere (Porte Pago), edição n.º 248, de 1997, constar "Nossa Senhora do Tojo, Padroeira da Paróquia do Souto". Não entendi e falei do assunto com  amigos na diocese de Leiria-Fátima. Coisa confusa, pois parecia usurpado o lugar de São Silvestre.
Já agora, recorro ao meu acervo documental, incluindo um artigo de última página do referido boletim (a última palavra seria escrita com "z" e não com "s", mesmo há 15 anos).



(1) Coreografia Portuguesa.

(2) Portugal Antigo e Moderno, 1816-1874.

Manuel Paula Maça
manoel.maza@gmail.com

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