quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Actor Taborda em Leiria


Leiria: O Actor Taborda e um Enxofradiço Anastácio

A edição n.º 3 da Revista Zahara (Maio de 2004), em trabalho de Ana Paula Agudo, tece, algo desenvolvidamente, aspectos biográficos e históricos relativos ao homem de teatro e actor a quem Abrantes tira o chapéu, por assim dizer. O resto do país e o Brasil também não o ignoram e emprestam-lhe essa espécie de imortalidade póstuma onde faz sentido a pergunta de Manuel Alegre, num velho poema: “Como enterrar os mortos que a memória desenterra?”.
Um pouco por todo o Portugal existiu ou existe, ainda, um Teatro Taborda. Em muitas vilas e cidades subsistem e resistem praças e ruas Actor Taborda, homenageando o homem que de facto se chamou Francisco Alves da Silva Taborda, e que Abrantes viu nascer em 8 de Janeiro de 1824. O que mais dissermos sobre o seu percurso, sobre as iniciativas em que se envolveu, e a própria casa onde viveu (em Lisboa) estão devidamente referenciados e registados.
Muitas vezes na mesma cidade diferentes grupos rivalizavam entre si. Chegavam a aparecer teatros particulares, tendo ficado famoso o “Teatro das Laranjeiras”, em Lisboa, onde o Conde de Farrobo fazia festas e promovia espectáculos de ópera (teatro lírico, afinal), reservando alguns papéis para si próprio.
Ora, Taborda passou pelas mais diversas salas do país, e foi em Leiria que ocorreu a história que encontramos registada (1).
Em data que supomos corresponder a finais de 1880 (o autor deixa algumas lacunas), no Teatro S. Pedro, Taborda abria uma representação da comédia “A Voz do Sangue”, de Gervásio Lobato. A orquestra estava a postos e a assistência desferia no chão de madeira as usuais pancadas que marcavam o início da representação. E lá entra Taborda, entoando uma cançoneta que começava assim: “Tudo isto… tudo isto… tudo isto… por causa do Anastácio”!
João Cabral deixou escrito que “o cómico não tinha previsto que entre os músicos da orquestra estava um «enxofradiço Anastácio» que, tomando aquelas palavras por um ataque frontal à sua pessoa, desatou a apostrofar, em voz alta o Actor Taborda, gritando que ele mentia, e, metendo o instrumento debaixo do braço aí vai ele de abalada… e abandonou o espectáculo”.
Taborda e “A Voz do Sangue” regressaram a Leiria, em finais de 1882, desta vez ao Teatro D. Maria Pia. Não sabemos se desta vez o «enxofradiço Anastácio» estaria na orquestra, mas a imprensa da época teceu elogiosos comentários à representação, referindo-se ao “maior talento cómico da cena portuguesa – o insigne, o glorioso, o imortal actor Taborda”.
Um registo que fica.

Manuel Paula Maça
manoel.maza@gmail.com

(1) O Teatro Amador em Leiria, João Cabral, edição da Assembleia Distrital de Leiria, 1980.

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