sábado, 13 de setembro de 2014

ALDEIA DO MATO - ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 12

 
Padre Manuel Lopes Alpalhão
 
ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
(UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
 
(Continuação e conclusão)
12
O Padre Manuel Lopes Alpalhão
12.1. Dados Biográficos
Manuel Lopes Alpalhão era natural de Cabeça das Mós, Sardoal. Desconhecemos a data do seu nascimento. Era filho de José Lopes Alpalhão e de Mariana Joaquina ou Mariana Maria (não se sabe, ao certo). Foi ordenado Presbítero a 23 de Maio de 1888.
Por amabilidade da Câmara Eclesiástica de Portalegre, sabemos que foi nomeado Pároco collado na Igreja de Santa Maria Magdalena de Aldeia do Mato em 2 de Janeiro de 1901.
Anteriormente teria estado em Mouriscas (29 de Outubro de 1890 a 22 de Setembro de 1897), Panascoso (22 de Setembro de 1897 a 7 de Novembro de 1898), São Facundo (7 de Novembro de 1898 a 14 de Julho de 1900) e Sardoal (14 de Julho de 1900 a 2 de Janeiro de1901).
Ao ser-lhe aprovada a contagem de tempo (como hoje lhe chamaríamos, em linguagem corrente) tinha 32 anos, 10 meses e 19 dias ao Serviço da Diocese de Portalegre. A partir daqui não lhe conhecemos os passos, sabendo apenas que faleceu em 13 de Março de 1937.
De salientar que neste período conturbado se criaram vários incentivos à atribuição de pensões e à aposentação de sacerdotes, no contexto das mutações sociopolíticas ocorridas a partir da implantação da República, com a chamada “Lei da Separação do Estado das Igrejas (decreto com força de lei de 20 de Abril de 1911, publicado no Diário do Governo n.º 92, de 21 de Abril de 1911).
12.2.Testemunhos de uma vida
Registos Paroquiais: Saíram das mãos e da pena do Padre Alpalhão os Registos de Assentos das Paróquias de Aldeia do Mato e de Martinchel, relativos ao tempo que medeia entre os inícios de 1860 e 1912.
A implantação da República, a 5 de Outubro de 1910, trouxe a eclosão de muitas tensões e divergências acumuladas ao longo de dezenas de anos, e esta questão não pode ser analisada com paixão ou ligeireza, e menos aqui e agora. O país era cultural e economicamente pobre e atrasado, com um domínio excessivo da igreja (católica), já que nem registos civis existiam! Os excessos ocorreram de ambos os lados, e com a distância imposta pelo tempo podemos olhar mais racionalmente as coisas. De qualquer modo, antes de entregar os documentos ao registo civil, o Padre Alpalhão teria compilado os registos, deixando assim o testemunho possível para estes 52 anos de vida das Paróquias de Aldeia do Mato e de Martinchel.
Um Lagar em Martinchel: Em 1908 o Padre Alpalhão tinha um lagar em Martinchel. Não conseguimos apurar se o construiu de raiz ou se o adquiriu, mas há indícios de que, para a época, terá sido uma moderna unidade de produção de azeite.
A propriedade teria passado para o Sr. Manuel Constantino, e daí por toda uma série de herdeiros, tendo alguns chegado a ser donos de 1/80 da totalidade! Atualmente, o proprietário é o Sr. Francisco Maria Barreiro, que o transformou num agradável café e restaurante, preservando com carinho e com sensibilidade muitos dos utensílios e apetrechos que serviram o velho lagar. O nome simples, sugestivo e bem português de A Prensa é um adequado e inequívoco tributo à história da casa e à própria memória do Padre Manuel Lopes Alpalhão, que assim deixou em Martinchel marca da sua passagem.
Em Cabeça das Mós: Na sua terra natal falámos com algumas pessoas e fomos amavelmente recebidos pelo Sr. Joaquim Manuel Alpalhão, descendente da família. Vimos algumas fotografias e documentos do Sacerdote e, frente à sua casa, uma pequena Capela com as suas iniciais e a data de construção: 1898.
Quando lá estivemos, o padre Alpalhão era lembrado pelos mais idosos. Recordavam-no como um amigo da terra, e lamentam que após o 25 de Abril de 1974 tenha sido retirada uma placa com o seu nome. Nesse lugar está hoje uma outra placa que diz Largo do Comércio.
12.3. A Implantação da República e duas cartas curiosas:
Embora tá tenha sido feita alguma divulgação isolada da correspondência do e para o então bispo de Portalegre, fica novamente a sua transcrição, porventura com adequado enquadramento.
 
12.3.1. Uma Carta do Bispo de Portalegre...
Com data de 21 de Outubro de 1914, a Diocese de Portalegre enviava ao Padre Alpalhão uma carta pedindo "...um relatório de tudo quanto soffreu e a sua egreja, desde a implantação do novo regimen. Indicando o nome de pessoas e dados; origem dos processos e sua importancia; tempo de prisao, exílio e motivos d'estes; tempo em que esteve fechada a sua egreja e causas d'este fecho; e tudo o mais que julgar conveniente, afim de serem angariados documentos para a história eclesiástica d'este período que atravessamos".
Esta carta era subscrita pelo Bispo D. António (D. António Moutinho foi Bispo da Diocese de Portalegre de 1909 a 1915).
12.3.2. ...e a Carta Resposta do Padre Alpalhão:
A resposta do Prior Manuel Lopes Alpalhão tem data de 24 de Outubro de 1914 e diz: "Dando cumpr.to ao officio de S. Exa. Revma. de 21 do corrente, tenho a honra de comunicar-lhe que a minha egreja, desde a implantação do novo regimen, até esta data, ainda nada soffreu; nunca foi fexada, estando sempre, até hoje patente ao culto catholico. E nem catholico algum da minha fregª foi preso ou processado; todos os catholicos têm concorrido ao culto com a maxima liberdade. É qtº se me offerece a dizer a S. Excª Revma. Deus guarde a S. Excª Revma".
Na transcrição fica respeitada a ortografia utilizada. As palavras fechada e fexada estão assim escritas.
Estes documentos parecem-nos de uma importância extrema. Sendo a resposta do Padre Alpalhão tão clara e tão breve, ela não será, sobretudo, cautelosa? Qual seria, no fundo, a sua posição perante a causa republicana? Qual a necessidade de vincar que todos os católicos têm concorrido ao culto com a máxima liberdade? Ou será que - como estamos em crer - de facto as nossas populações não viram reprimida a sua liberdade religiosa, até pela localização geográfica e por razões socioculturais? Estas e outras são questões que ficam no ar.
Ainda assim, com o passar dos anos e perante novos dados, hoje parece claro que o padre Alpalhão seria um adepto da causa monárquica e que não foram pacíficas as suas relações com o poder instituído pela República. Ainda assim, há um documento redigido e assinado por ele, em momento de maiores tensões, em que afirma ser um “democrata sincero”!
Pode ser que mais adiante, noutra abordagem histórica da nossa terra, se retome mais desenvolvidamente este problema das relações entre a paróquia e o poder instituído no contexto da I República.
Este trabalho termina aqui.
                                                                                                               
Manuel Paula Maça

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segunda-feira, 4 de agosto de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 11


(Continuação)
11

SACERDOTES NA PARÓQUIA DE ALDEIA DO MATO
 
Chegou o momento de recordarmos os sacerdotes que ao longo daqueles distantes 52 anos foram párocos da Igreja de Santa Maria da Magdalena, na Aldeia do Mato, com a responsabilidade do apoio espiritual à comunidade católica de toda a freguesia, a par de todo um trabalho administrativo que lhes estava acometido, e de outros tipos de apoio a que seriam chamados e a que não poderiam eximir-se. Em regra teriam, cumulativamente, a responsabilidade da paróquia de Martinchel.

Os registos existentes foram compilados pela mão (e na bonita caligrafia) do Padre Manuel Lopes Alpalhão, a partir dos elementos deixados escritos por aqueles que o antecederam, a que juntou os do exercício do seu próprio ministério. O mínimo que aqui é devido a esses homens é lembrar os seus nomes, e o pouco mais que nos foi possível encontrar.
Teremos, então:

1. Joaquim Lopes Várzea
Sabemos que em 1860 já estava na Paróquia. O primeiro registo em que aparece é um batizado, ocorrido em 9 de Janeiro de 1860.
Faleceu em 20 de Novembro 1871, exatamente na Aldeia do Mato

2. António Maria Gusmão de Almeida
Damo-nos conta da sua responsabilidade pela Paróquia entre 1872 e 1881.
 
3. Manuel Pereira Martins
O seu nome começa a aparecer em 1882 e vai até 29 de Março de 1888.

4. Henrique de Oliveira Neves
É Pároco desde 1888 até 18 de Agosto de 1897. Foi padrinho de batizado de muitas crianças, mesmo em data posterior, quando já estaria nas Mouriscas. Os seus afilhados do sexo masculino receberam o nome de Henrique.
 
5. António Joaquim da Silva Martins
No site sardoalmemoria.net consta ter paroquiado a Aldeia do Mato desde 22 de Setembro até 22 de Dezembro de 1897. Não é referido nos registos em apreço, mas assim se preenche um espaço temporal que estaria vazio.
 
6. António Alves Barradas
Damo-nos conta deste sacerdote entre 1898 e 25 de Março de 1900.

6. João Pires Eduardo
Este sacerdote terá sucedido ao anterior, de Março de 1900 até ao início de 1901.

7. Padre Manuel Lopes Alpalhão
A sua responsabilidade pela Paróquia vai de 2 de Janeiro de 1901 até 10 de Julho de 1923.
Registamos o seu nome como padrinho de batizado em 27.05.1907 e 21.02.1908.
Será referido com mais pormenor em próximo capítulo, até porque há a particularidade de se tratar do sacerdote que paroquiava aquando da implantação da República.
 
(continua)
Manuel Paula Maça


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quinta-feira, 10 de julho de 2014

ALDEIA DO MATO ABRANTES - REGISTOS PAROQUIAIS 1860-1911 - 10

ALDEIA DO MATO 1860 A 1911
(UM ESTUDO DOS REGISTOS PAROQUIAIS)
(Continuação)
10
Breve Resumos de Dados

 
 
BREVE RESUMO DE DADOS

Os capítulos anteriores refletem dados que, de um ponto de vista demográfico e sociológico, serão a caracterização possível da freguesia da Aldeia do Mato, no período de 1860 a 1911 (inclusive).
Começámos, ainda, nos tempos da monarquia e acabámos pouco mais de um ano depois da implantação da república, mas este acontecimento marcante da nossa história pouco terá influenciado a vida dos nossos conterrâneos de então. Qualquer mudança significativa teria sido sobretudo determinada pela marcha lenta e natural das coisas, que primeiro chegavam às cidades e só muito depois aos recônditos meios rurais. A pacatez da vida destas gentes somente terá sido abalada - e duramente, sem dúvida - no período das Invasões Francesas, justamente a partir de Novembro de 1807 (Junot dormiu em São Domingos de 23 para 24), digamos que pelas tais razões que a razão desconhece.
Vamos, pois, a um breve resumo daquilo que de mais importante apuramos, procurando estabelecer relação com valores oficiais ou com estudos publicados:

10.1. Natalidade
Encontramos 1214 assentos de batizado, mas não é de estranhar que o número de nascimentos possa ter sido algo superior. Na época eram frequentes nascimentos que escapavam aos registos, e era elevado o número de crianças que morriam antes ou durante o parto.
Se considerarmos que neste período se encontram registados 333 casamentos, encontraremos uma média (que vale o que vale) de 3,65 crianças por casal. O exercício de amostragem que fizemos também dá credibilidade a este número: se encontrámos um record de 13 filhos, também encontrámos muitos casais com nenhum, com um ou com dois, sendo frequentes 6, 7 ou 8.
Não deveremos esquecer as crianças nascidas fora do casamento (filhos naturais e ilegítimos), mas parece-nos que não alterariam significativamente os resultados apurados, até porque muitas vezes o casamento vinha posteriormente.
Uma das nossas fontes (1) diz que "15,8% de todas as crianças batizadas em 1860 eram filhos naturais e expostos", mas sabemos que os expostos que aportavam às nossas aldeias (sobretudo à Cabeça Gorda) já vinham batizados, muitos deles em Abrantes.
A idade do casal aquando do nascimento do 1º filho também nos mereceu atenção. Em média seriam 30 anos para o pai e 28 para a mãe. As exceções confirmariam a regra, e a jovem da Aldeia do Mato que teve o 1º filho aos 17 anos é um exemplo.

10.2. Nupcialidade
Relativamente ao casamento, apuramos que os homens casavam entre os 29 e os 31 anos.
Em geral a mulher era mais nova, em regra dois anos. Mas encontram-se casos em que a diferença é maior, ou em que o homem é mais novo que a mulher.
Há historiadores (1) que admitem que nesta época a idade média do casamento seria de 27-28 anos para os homens e 25-26 para as mulheres, embora variando de acordo com o extrato social, com as zonas do país e com as profissões ou ocupações. Também encontrámos um estudo algo recente (2) relativo a uma zona rural do Alto Minho onde se apontam as idades médias do casamento em 30,47 anos para os homens e 29,32 para as mulheres, no ano de 1860. Parece-nos que, no essencial, isto não se afasta das conclusões a que chegámos.
Hoje não deixaria de ter alguma graça a ideia deixada pelo nosso Rei D. Duarte, segundo a qual, para as raparigas, os 14 anos eram a idade ideal para casar... (3), mas se calhar o monarca só pensava nas raparigas de classes nobres.

10.3. Mortalidade
É falso que antigamente se vivesse mais tempo. A ausência de cuidados médicos, a promiscuidade das habitações, a alimentação e a higiene deficientes matavam inexoravelmente até aos 10 anos... e mesmo daí em diante. Funcionava um penoso processo de seleção natural em que escapavam os mais aptos e os mais resistentes, e estes, sim, chegavam às respeitáveis idades que sabemos (Ana Paulina viveu 115 anos, segundo os registos).
Os dados apurados são, em resumo, os seguintes:

. Mortalidade Infantil: este conceito técnico abrange a faixa etária que vai até 1 ano de idade, e, grosso modo, traduz a relação entre as crianças que morrem e as que nascem. Atualmente este valor, a nível nacional, situa-se em 2,9 por mil, mas no período estudado foi de 18,4%. Se alargarmos esta faixa etária até aos 10 anos, a mortalidade passa a 30,8% (sim, 30,8 por cento!). São números assustadores, que dispensam comentários.

. Mortalidade na Idade Adulta: embora se morresse em todas as idades, os resistentes morreram maioritariamente entre os 70 e os 90 anos, a maior parte a ultrapassar os 80 (106 casos entre os 70 e os 80, e 107 entre os 80 e os 90). Mas atenção aos que já tinham ficado pelo caminho!

As causas da morte eram sobretudo a doença: cólera, tifo, febre-amarela, varíola, tuberculose, algumas formas de paludismo (as sezões) e toda uma série de doenças desconhecidas ou não diagnosticadas, que, como tal, eram englobadas nas chamadas doenças gerais, e às vezes designadas de forma popular por peste, pestença ou pestilência, ou “um ar que lhe deu”. No caso das mulheres, vale a pena recordar que muitas morriam com problemas decorrentes da gravidez e do parto, e os nossos registos também mostram que assim seria.  

10.4. Os Expostos ou Enjeitados
Muitas crianças expostas (ou enjeitadas) vieram para a nossa freguesia, sobretudo para a Cabeça Gorda. Não constam dos registos de Assentos porque já vinham batizadas, normalmente com nomes de Santos, Apóstolos e figuras bíblicas. Contudo, no registo dos óbitos ocorridos durante estes 52 anos ainda encontramos 44 expostos, dos quais 26 (59%) morreram antes dos 12 anos.
A exposição era uma prática corrente, e "...não há dúvida, uma das nossas chagas, a maior de todas as que temos", como escrevia um autor do século passado (4).

10.5. Longevidade
Trabalhando os 744 óbitos registados em termos de média aritmética, constatamos uma longevidade de 41,95 anos. Isto significa que nascer no período em análise equivaleria a uma esperança média de vida de 41,95 anos.
Alguns historiadores sugerem que a vida média no tempo de Jesus Cristo seria de cerca de 20 anos, sendo 22 anos no tempo dos Gregos e dos Romanos, podendo ter ultrapassado ligeiramente os 30 anos na época de Carlos Magno, até cerca de 1300. Em 1900 atingiria 45 anos nos Estados Unidos da América (5). Mas estes números carecem de muita cautela, pois bastariam uma guerra ou uma epidemia para dizimar uma população, sem esquecer que os registos seriam deficientes.
Segundo dados de 2013, a esperança média de vida á nascença é de 79,78 anos, sendo 76,67 e 82,59, para o homem e para a mulher, respetivamente.

10.6. Antroponímia
Como escrevemos anteriormente, os nomes dos nossos antepassados eram vulgares. Em 73% dos casos o primeiro vocábulo do nome próprio era o do padrinho ou o da madrinha. Assim:
. Nomes Femininos: em 587 mulheres (258 Marias, 32 Anas, 26 Guilherminas, etc.), 70 diferentes nomes foram utilizados.
. Nomes Masculinos: em 627 homens (142 Josés, 134 Antónios, 111 João, etc.), 49 diferentes nomes foram utilizados.

10.7. Profissões
Poderíamos falar em economia, mas o termo não nos parece apropriado face à escassez dos registos disponíveis e por nos parecer que se vivia sobretudo da agricultura, da floresta e da pastorícia.
Encontramos muitas referências a atividades masculinas, e recordaremos: trabalhadores, (possivelmente seriam jornaleiros), serradores, ferradores, ferreiros, pastores, carpinteiros, pedreiros, alfaiates, sapateiros, moleiros, cingeleiros, comerciantes, negociantes e proprietários. Recorde-se que encontramos 3 taberneiros, 1 padeiro, 1 barbeiro e até 1 cocheiro.
Quanto a atividades femininas, (embora se saiba que as mulheres trabalhavam muitas vezes desde a infância), temos apenas vagas referências a jornaleiras, criadas de servir, domésticas, costureiras e sem ocupação.

10.8. A População da Freguesia

Atrevemo-nos a avaliar, por cima, 1.200 habitantes (crianças e adultos) para a totalidade da freguesia de Aldeia do Mato por volta de 1912, conjugando os 333 casamentos, os 744 óbitos e os 1214 nascimentos.
Num documento do século passado (6), já referenciado, é atribuída à Aldeia do Mato uma população de 399 Varões e 438 Fêmeas, o que totaliza 837 pessoas.  
O país teria cerca de 5 milhões de habitantes no princípio do século XX.

10.9. Que Conclusões?
O desenvolvimento que neste capítulo aparece resumido nos seus aspetos essenciais permitirá concluir que as condições de vida das nossas gentes eram extremamente difíceis. Sabemos que economia, alimentação, higiene, saúde, meio ambiente e outros fatores se cruzam e se determinam mutuamente, na eterna relação causa-efeito.
As terras da Aldeia do Mato estiveram, até bastante tarde, integradas no Almoxarifado da Amieira, nos domínios do Grão Priorado do Crato, da Ordem de Malta, com sede no Convento da Flor da Rosa.
A povoação começa a ser referida pelo século XVI, mas terá sido habitada muito antes. Em 1758, nas Memórias Paroquiais do Padre Luís Cardoso, é vincada a sua componente agrícola e florestal, com alguns indícios de atividade piscatória no Rio Zêzere, outrora partilhado pela Ordem de Cristo e pelos Crúzios (Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, senhores de Martinchel).
Ao longo dos anos não nos apercebemos de qualquer atividade geradora de postos de trabalho regulares, até porque a própria localização geográfica e as deficientes vias de comunicação (fortemente delimitadas pelo rio), também não lhe seriam favoráveis. Haveria muita mão-de-obra disponível, mas não muito onde aplicá-la, e a verdade é que bem cedo nos apercebemos dos movimentos migratórias, em termos de saídas. Homens e mulheres iam para a agricultura no Ribatejo e - porventura - para o Alto Alentejo. Com o advento da industrialização os homens terão começado a sair para Lisboa, e mais tarde para o estrangeiro. Começaram a ir famílias inteiras, tendo-se chegado à situação que hoje conhecemos e que não virá a propósito analisar aqui.
Importará, contudo, reter que sendo o país essencialmente florestal e agrícola, o tamanho da propriedade e aquilo que se produzia variava muito de Norte a Sul e do interior para o litoral. Por tais razões, uma vez mais as comparações a estabelecer e as conclusões a retirar deverão ser cautelosas e ponderadas.
Alguns autores referem-se a este período como sendo "de miséria", e se a palavra é pesada e chocante, os dados obtidos parecem conferir-lhe propriedade. É certo que a qualidade de vida também passa por valores culturais e afetivos, mas estes pertencem à interioridade de cada um, não são quantificáveis e aqui não passariam de figura de retórica. Concluiremos, pois, que os nossos antepassados partilhavam no mínimo da pobreza generalizada apontada para os meios rurais no nosso país. Os dados obtidos não são, pois, divergentes do que em geral se encontra escrito sobre os temas abordados.
 
Nascimentos, Casamentos e Óbitos por Lugares

        LUGAR          NASCIMENTOS     CASAMENTOS          ÓBITOS

   Abrantes                    4                      0                      0
   Aldeia do Mato         165                    41                     87
   Alverangel                  0                      1                      0
   Amoreira                    0                      1                      0
   Arroteia                      2                      0                      2
   Bairros                      98                     16                     25
   Belmonte                   0                      0                      1
   Cabeça Gorda          281                    88                    245
   Carreira do Mato       390                    98                    212
   Casais                     100                    28                     64
   Casinha                     0                      1                      0
   Figueiras                    1                      0                      0
   Fontainhas                 0                      0                      2
   Martinchel                  0                      5                      0
   Medroa                    147                    42                     99
   Rio de Moinhos          0                      3                      0
   Souto                        0                      1                      0
   Vale de Chões           14                      1                      4
   Vale Redondo             8                      2                      1
   Vale Salgueiro            2                      0                      0
   Vales                         1                      0                      1
   Várzea da Portela       1                      0                      0
           ?                      0                      5                      1
       TOTAL               1214                  333                   744

De uma breve leitura do quadro ressalta a particularidade de a Cabeça Gorda deter o maior número de óbitos registados: 245 = 32,93% do total, o que determina um baixo saldo fisiológico.
Sendo este o 2º maior lugar da freguesia, esta constatação é notória e curiosa. De facto, a média de vida aqui era inferior à do resto da freguesia (gráfico acima).

                                            Distribuição por anos (7)

         ANO           NASCIMENTOS      BAPTIZADOS      CASAMENTOS          ÓBITOS
                 1860          19                     18                      7                     10
                 1861         33    (34)             34                      9     (9)            12     (12)
                 1862          16    (15)            15                      6     (6)             11      (8)
                 1863          20    (21)            21                      4     (4)            24     (24)
                 1864          28    (28)            29                      5     (5)            33     (33)
                 1865            8     (8)             8                      7     (7)            12     (11)
                 1866          25    (25)            25                      2     (2)            14     (15)
                 1867          18    (15)            17                      9     (3)              9     (20)
                 1868         21     (17)           20                      4     (9)            20      (9)
                 1869          10                     11                      4                     25
                 1870          17                     17                      7                     15
                 1871          21                     19                      3                      5
                 1872          24                     24                      2                      8
                 1873          16                     17                      4                      8
                 1874          14                     14                      3                     12
                 1875          17                     17                      7                     15
                 1876          16                     15                      7                      9
                 1877          19                     19                      8                     12
                 1878          23                     23                      3                     15
                 1879          15                     15                      6                      9
                 1880          15                     15                      5                     19
                 1881          14                     15                      3                     14
                 1882          22                     21                      4                     15
                 1883          21                     20                      7                     10
                 1884          16                     17                      4                     17
                 1885          21                     20                      4                     13
                 1886          18                     19                      7                     11
                 1887          27                     27                     12                      9
                 1888          25                     25                      8                     13
                 1889          19                     19                      9                      8
                 1890          18                     18                      5                     17
                 1891          27                     28                      6                     17
                 1892          25                     21                      8                      5
                 1893          23                     27                     13                     10
                 1894          20                     19                      7                     18
                 1895          31                     28                      7                      7
                 1896          27                     24                      6                      8
                 1897          32                     34                      7                     11
                 1898          31                     32                      6                     13
                 1899          32                     32                     10                     26
                 1900          30                     30                      8                     18
                 1901          33                     32                      9                     14
                 1902          38                     38                      6                     11
                 1903          27                     30                      3                     21
                 1904          32                     29                     11                     15
                 1905          31                     32                      7                     12
                 1906          36                     33                      6                     29
                 1907          27                     25                      9                      9
                 1908          32                     34                      6                     21
                 1909          21                     20                      9                     13
                 1910          30                     36                      8                     17
                 1911          33                     34                      6                     25
           ?                      0                      2                      0                      0
   TOTAIS                  1214                 1214                  333                   744 

(1) História de Portugal, José Mattoso, V Volume.
(2) Filhos de Adão, Filhas de Eva, João de Pina Cabral, Publicações D. Quixote, 1989.
(3) A Sociedade Medieval Portuguesa, A. H. de Oliveira Marques, Livraria Sá da Costa, Editora, 5ª Edição, 1987.
(4) Estatística do Districto Administrativo de Leiria, D. António da Costa de Souza e Macedo, Tipografia Leiriense, 1855.
(5) História da Saúde e dos Serviços de Saúde em Portugal, Prof. Dr. F. A. Gonçalves Ferreira, Fundação Calouste Gulbenkian, 1990.
(6) Dicionário Chorográphico de Portugal e Ilhas Adjacentes, E. A. Bettencourt, 3º Edição, Lisboa, 1885.
(7) Os números em negrito e entre parêntesis são os que encontramos na Memória Histórica da Notável Vila de Abrantes, já anteriormente referenciada. As diferenças poderão corresponder a registos eventualmente transportados para anos anteriores ou posteriores.
                                                                                                                                             (continua)

Manuel Paula Maça
manoel.maza@gmail.com

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